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Uso de tecnologias é essencial para evitar o desmatamento no Brasil

Carina Brito

Quando os primeiros satélites de observação da Terra foram lançados, o Brasil começou a desenvolver tecnologias baseadas nas imagens produzidas por esses equipamentos para monitorar a cobertura vegetal do território e entender como o solo está sendo usado. Mas o que nós podemos fazer com esses dados?

Para responder essa pergunta, a organização ambiental Coalizão Brasil promoveu um seminário científico em 2018 com os principais dados dos maiores especialistas no tema.O resultado dessa discussão gerou um relatório que foi apresentado nesta sexta-feira (09 de agosto) durante o Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, por Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências, e Beto Mesquita, diretor da associação BVRio e membro da organização Diálogo Florestal. Eles também são membros da Coalizão Brasil, movimento que reúne mais de 200 representantes das entidades de defesa do meio ambiente.

Na opinião de Nobre, o seminário científico foi como uma “premonição” porque, há um ano, ele nem imaginaria que este assunto estaria tão em pauta quanto hoje. Ele comentou que, apesar de toda a base de dados científicos ser rigorosa, as redes sociais começaram a propagar números falsos sobre o meio ambiente como, por exemplo, o tamanho de terra usado na agricultura e o quanto se preserva das florestas nativas. 

Para Nobre, a “fake science” é uma maneira de distorcer a realidade e buscar sempre o lado positivo que beneficie algum setor econômico. “É lógico que o Brasil é um país que tem muitas florestas, mas todos os dados foram distorcidos de uma maneira muito primária”, diz Nobre, que dá o exemplo de quando dizem que o Brasil é o país que mais tem florestas, quando na realidade é a Rússia a nação que abriga a maior quantidade de cobertura vegetal. “Ou quando dizem que o Brasil tem o maior porcentual protegido no mundo, mas ele é o 19º nesse quesito.”

Com isso, Nobre diz que os dados acabam perdendo credibilidade.“O fato de que alguns governos, e este em particular, preferem ir para o lado da ‘fake science’ é grave porque está adotando uma tendência mundial que é péssima para o futuro da humanidade”, afirma.

Nobre ainda comenta o relatório do IPCC, divulgado na última quinta-feira, que ressalta a importância estratégica de proteger as florestas tropicais em todo o planeta. “Neste ponto, a América do Sul, em especial o Brasil, podemos ser os líderes”, diz o pesquisador. 

No entanto, hoje o país que mais refloresta é a China, apesar de abrigar regiões extensas de clima seco. A América do Sul, por sua vez, está indo no sentido contrário, destruindo cada vez mais as florestas tropicais. “É um momento disruptivo: ou começamos a reflorestar ou estamos em uma trajetória de um risco gigantesco de as mudanças climáticas se tornarem incontroláveis”, diz Nobre. 

Segundo Mesquita, há uma outra motivação de trabalhar os dados de monitoramento: possuir uma série de informações para tomar as melhores decisões. “Esta é uma das maiores vantagens competitivas que o Brasil tem em relação ao uso do solo em relação a outros países produtores. Temos condições de oferecer para a sociedade uma informação de qualidade para tomar decisões corretas”.

E nesta questão a tecnologia tem um papel fundamental, realizando o monitoramento por ferramentas que incluem sensoriamento remoto, leitura das informações de satélites e softwares que interpretam os dados produzidos por diferentes equipamentos de medição.  “Hoje nós falamos em constelação de satélites, ou seja, um conjunto de vários satélites que fazem fotos de diversos ângulos para melhora a acurácia da informação”, afirma. 

Além disso, ele conta que existem várias iniciativas para monitorar colaborativamente o desmatamento, em que jovens nas comunidades indigenas da Amazônia podem utilizar o celular para relatar o desmatamento da floresta. “É uma forma de a tecnologia democratizar a ciência.”

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