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Mais de 800 mil animais vivos sofrem com a exportação no Brasil

Manifesto quer extinguir o sofrimento dos animais e ajudar a conter o avanço da pecuária em áreas de conservação da Amazônia

Mais de 800 mil bois vivos foram exportados por via marítima em 2019 e 2020 partindo do Brasil para países do Oriente Médio e Norte da África. Os animais são confinados em navios que muitas vezes não foram construídos para essa finalidade, em espaços minúsculos e em condições insalubres.

Para extinguir o sofrimento dos animais exportados vivos e ajudar a conter o avanço da pecuária nas áreas de conservação da Amazônia, a Mercy For Animals (MFA), organização mundial focada na proteção e defesa de animais explorados para alimentação, lançou um manifesto pelo fim da exportação de animais vivos no Brasil.

“Os animais exportados sofrem ao extremo, pois são mantidos confinados em navios por semanas, sendo obrigados a deitar sobre as próprias fezes e urina, além de serem brutalmente mortos nos países de destino. Não podemos aceitar mais isso. Temos que banir essa prática terrível”, afirma Luiza Schneider, vice-presidente de Investigações da MFA.

A Mercy For Animals lançou uma petição em 2019 em prol da aprovação do Projeto de Lei 357/2018, em trâmite na Comissão do Meio Ambiente do Senado Federal.

O projeto propõe a proibição da exportação de animais vivos destinados ao abate e destaca o crescimento dessa atividade nos últimos anos no Brasil, trazendo à discussão as condições de sofrimento extremo a que são submetidos os animais transportados e a poluição decorrente do lançamento dos dejetos animais sem tratamento no meio ambiente.

A petição conta atualmente com mais de 450 mil assinaturas. Além disso, pesquisa encomendada pela MFA ao Instituto Ipsos aponta que 84% dos brasileiros concordam que a exportação de animais vivos para abate deve ser proibida no Brasil.

No Rio de Janeiro e em São Paulo também tramitam dois projetos que visam à proibição da prática e ambos aguardam votação nas respectivas Assembleias Legislativas.

Pioneirismo infeliz

Na América Latina, o Brasil é pioneiro em exportar bois vivos para abate em outros países por via marítima. Entre 2012 e 2020, o país exportou 2,6 milhões de bois vivos.

Em 2019, o Brasil foi o segundo maior exportador de bovinos vivos por via marítima do mundo, com 499.688 animais. Nesse mesmo ano, foi também o maior fornecedor de bois vivos para o Oriente Médio (perto de 380 mil animais) e o segundo maior fornecedor de bovinos vivos para o Norte da África (cerca de 100 mil).

Por cinco anos consecutivos, entre 2015 e 2019, o Brasil esteve entre os 10 maiores exportadores de bovinos vivos do mundo. Foram exportados para abate, em média, 413 mil animais vivos por ano, ou mais de 2 milhões de animais no período.

Entre os maiores exportadores de bovinos vivos do Brasil estão as empresas Minerva, a Agroexport Trading e Agronegócios, a Mercúrio Alimentos e a Wellard do Brasil. Juntas, essas quatro empresas foram responsáveis por 81,4% das exportações de bovinos vivos no Brasil entre 2015 e 2017, sendo a Minerva a responsável pela maior parte dos animais (47,6% ou cerca de 375 mil animais).

Sofrimento animal

A exportação de animais vivos no Brasil é realizada majoritariamente por via marítima, com embarque principalmente no Porto de Vila do Conde, na cidade de Barcarena, no Pará.

As viagens em navios costumam durar mais de um mês e os bois são confinados em ambientes hostis e artificiais, viajam amontoados e sem espaço para se movimentarem. Nesse período, são obrigados a viver em condições insalubres, tendo que deitar sob suas próprias fezes e urina, muitas vezes em ambientes sem ventilação adequada.

Para chegar aos portos, os animais viajam em caminhões com pouco espaço e sofrem privação de alimento e água por muitas horas.

Investigações lançadas pela Mercy For Animals revelaram que, nos países de destino, os animais são abatidos de formas cruéis e consideradas ilegais no Brasil, além de contrariar as recomendações da Organização Internacional de Saúde Animal.

Incidentes e impacto ambiental

Pelo menos quatro incidentes graves foram relacionados à exportação de bois vivos no Brasil. Em 2012, um navio teve uma pane quando estava em alto-mar, o que provocou a morte de mais da metade (2.750) dos 5.200 bois por asfixia.

Em 2015, um navio afundou na doca do Porto de Vila do Conde com 5 mil bois. A maior parte morreu afogada e os corpos dos animais mortos e o vazamento de óleo do navio provocaram um dos maiores desastres ambientais daquela região. A previsão é de que a estrutura do navio comece a ser resgatada neste ano.

Em 2018, o acúmulo de fezes e urina dos 27 mil bois embarcados em um navio com destino à Turquia causou poluição ambiental na cidade de Santos, em São Paulo. O incidente mobilizou a Câmara Municipal de Santos, que aprovou uma lei proibindo o transporte de animais vivos nas vias municipais, o que acabou por inviabilizar esse tipo de exportação pelo Porto de Santos.

Em 2019, a estação de pré-embarque Fazenda Morada da Lua, no Pará, foi embargada pela Justiça por despejar dejetos dos bois confinados no rio Curuperé. O rio foi contaminado e causou danos à saúde e à subsistência dos moradores da comunidade de Curuperé-Grande, localizada na divisa entre as cidades de Abaetetuba e Igarapé-Miri.

A fazenda, de propriedade da Minerva, tem capacidade para abrigar até 27 mil animais e segue com as atividades suspensas, assim como três outras estações de pré-embarque pertencentes também à Minerva, localizadas em Abaetetuba.

Desmatamento e pecuária

Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a pecuária é a principal causa de desmatamento na Amazônia. O Pará, estado que mais exporta animais vivos do Brasil, foi o estado com maior área sob alerta de destruição florestal: 211 quilômetros quadrados, equivalente a 36% do total registrado até 29 de abril deste ano. O Amazonas ficou em segundo lugar, com 175 quilômetros quadrados.

Em 2019, o Pará desmatou 48% da área verde de floresta do bioma, em 2020, 42%, e nos últimos dois meses deste ano bateu recorde de desmatamento.

Entre 2015 e 2017, as exportações paraenses representaram 97,9% das exportações oriundas do bioma amazônico e 71,2% das exportações de bovinos vivos do Brasil em volume. Nesse mesmo período, a maior parte dos bovinos vivos exportados pelas quatro maiores empresas exportadoras do país foi fornecida por fazendas paraenses.

Por Ciclovivo

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