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Pesquisa avalia produção agrícola de indígenas passada de geração a geração em aldeia no Acre

Após pouco mais de três anos de levantamento de dados e experiências na prática dentro da aldeia Nova Aliança, na terra indígena Kaxinawá de Feijó, no interior do Acre, o pesquisador Tomaz Lanza afirma que o modo de produção agrícola dos indígenas contribui para a conservação da biodiversidade no estado.

A pesquisa foi uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Acre (Ufac) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolvida entre os anos de 2016 e 2020 e foi apresentada como tese de doutorado de Tomaz Lanza.

“Sem dúvida essa forma de cultivo, de fazer agricultura, cultura de relação com as plantas alimentícias, é muito importante para a conservação da biodiversidade no Acre. É uma agricultura resiliente que vem sendo utilizada e praticada há várias gerações, é altamente produtiva e não observei problemas significativos com pragas e doenças. São sistemas diversificados, dificilmente eles plantam uma cultura só”, contou o pesquisador sobre a conclusão do estudo.

Para Lanza, o povo Kaxinawá tem uma agricultura que está mais ligada com a floresta do que a convencional.

“É uma agricultura que, ao meu ver, é o mais próximo de uma agricultura sustentável porque ela não necessita de irrigação, nem defensivos químicos, agrotóxicos e que conserva sementes crioulas. É resiliente e altamente produtiva e está muito alinhada com a conservação da natureza e do solo que quando fica fraco, eles mudam de lugar. Então, existe uma consciência na prática deles de um uso consciente e de uma agricultura mais limpa”, complementou.

Lanza afirma que mesmo sob influência da cidade, ainda existe muito conhecimento preservado e uma utilização grande dessas plantas, que são cultivadas em roçados, bananais, às margens dos rios, nas praias e nos quintais, onde são cultivadas algumas plantas frutíferas e hortifrúti.

Pesquisador acredita que  povo Kaxinawá têm uma agricultura que está mais ligada com a floresta do que a convencional. — Foto: Tomaz Lanza/arquivo pessoal

Pesquisador acredita que povo Kaxinawá têm uma agricultura que está mais ligada com a floresta do que a convencional. — Foto: Tomaz Lanza/arquivo pessoal

Sobre a pesquisa

A pesquisa entrou como projeto complementar para estudar a agricultura da terra indígena avaliando a prática de manejo utilizada, que tipo de plantas, como plantam, qual a época e de que forma fazem o plantio.

Lanza disse que teve como orientador foi o professor Lin Chau Ming da Unesp Botucatu, em São Paulo, e co-orientador o pesquisador da Embrapa Acre, Moacir Haverroth, que é o coordenador do projeto Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda, no qual está inserida a tese dele.

O estudo também avaliou os produtos que os indígenas cultivam e também as frutas que são encontradas na floresta. O pesquisador contou que, ao todo, encontrou 115 espécies de plantas alimentícias consumidas dentro da comunidade. Desse total, 50 foram consideradas como cultivadas. Algumas delas são milho, banana, cará, taioba, entre outras.

Outras 65 nas áreas de mata, encontradas na floresta, entre frutas e folhas que os indígenas consomem no dia a dia como acaí, patauá, pama, cocão, maçaranduba, abiurana, entre outros.

“A gente subia o rio Envira, ficava lá um tempo na terra indígena. É uma pesquisa etnobotânica que busca entender a relação que essas pessoas têm com as plantas, mas o foco nosso é sobre as plantas alimentícias”, contou.

Além disso, também teve como objetivo tentar compreender todo o processo de cultivo e vivenciar o cotidiano de como eles praticam a agricultura.

“Como a gente sabe, os indígenas têm uma cosmo visão muito forte associada às plantas, à natureza. Então busquei entender quais músicas eles cantavam para abrir um roçado pra colheita e quais rituais eles faziam”, contou sobre o processo de observação.

O pesquisador defende que existe um conhecimento aprofundado sobre a natureza pelos Kaxinawás, que se trata de uma agricultura complexa, que contribui muito com a conservação não só cultural dessas populações, mas para conservação da biodiversidade.

“Eles comem essas plantas, cultivam, conservam essas variedades agrícolas, conservam as plantas alimentícias da floresta, então é bacana ver essa relação próxima com a natureza e que está totalmente associada a conservação da biodiversidade do Acre. Isso é importante não só para eles, mas para o Acre e e Amazônia, Brasil como um todo”, concluiu.

Mamão jacaré faz parte da plantação dos indígenas — Foto: Tomaz Lanza/Arquivo pessoal

Mamão jacaré faz parte da plantação dos indígenas — Foto: Tomaz Lanza/Arquivo pessoal

Por G1

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