Cerrado registra mais focos de queimadas do que a Amazônia nos primeiros dias de setembro
Por Carolina Dantas, G1
O Cerrado registrou mais focos de queimadas nos primeiros dias de setembro do que a Amazônia, fenômeno inverso ao que foi visto durante o mês de agosto e desde o início do ano.
Esse aumento no número de focos no Cerrado não foi visto no mesmo período de 2018. De acordo com especialistas, os incêndios provavelmente têm causa humana e se propagam devido à onda de calor que afeta o Cerrado nos últimos dias. As causas naturais são pouco prováveis, já que o bioma passa pelo período de seca – sem chuvas –, e dificilmente ocorreria um raio para provocar um incêndio natural.
Do dia 1º até esta segunda-feira (9), foram 7.304 focos no Cerrado, contra 6.200 na floresta amazônica. No acumulado ano ano, o bioma Amazônia acumula 53.023 focos contra 34.839 do Cerrado (veja gráficos abaixo).
Nos últimos 30 dias (de 9 de agosto a 9 de setembro), a Amazônia registrou 30.245 focos, contra 17.438 do Cerrado. A tendência de crescimento das queimadas neste segundo bioma começou apenas na última semana do mês.
Os dados são do banco do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foram captados pelo satélite de referência Aqua.
Focos de calor no início de agosto e setembro de 2019 — Foto: Carolina Dantas/G1
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) publicou um alerta de “Grande perigo” nesta terça-feira (10), que aponta risco para mais de 20 cidades do Mato Grosso, regiões do Cerrado. Há chance de a temperatura ficar pelo menos 5ºC acima da média nos próximos 5 dias.
“O que está acontecendo são dois fatores: o Cerrado está passando por uma rara onda de calor. É raríssimo este tipo de alerta [do Inmet]. Quando você tem este tipo de temperatura e uma baixíssima umidade, a situação do Cerrado fica muito inflamável” – Carlos Nobre, climatologista, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o pesquisador, há uma dinâmica no Cerrado. O bioma é adaptado ao fogo, mas não quando ele é aplicado em tamanha proporção pelos humanos. Existem árvores resistentes, mas não tão fortes a ponto de viver em um cenário tomado pelas queimadas.
“O Cerrado tem aquelas árvores com a casca resistente ao fogo. Tem 60% a 70% de cobertura de árvores, e 30% a 40% de cobertura de gramíneas, e, quando chega, o fogo atinge só as gramíneas, que depois crescem de novo. O Cerrado evoluiu milhões de anos. Mas hoje colocamos fogo demais e ele ainda não está preparado”.
Queimadas têm causa humana
Assim como Nobre, Alberto Setzer, pesquisador do Programa Queimadas, diz que o fogo no Cerrado, e também na Amazônia, é de causa humana – intencional ou acidental. Ele explica que a única causa natural de fogo são os raios, fenômeno que ocorre durante a temporada de chuva no bioma. Não é o caso do Cerrado no momento.
Em uma análise dos dados do Inpe no início de setembro, constatou-se que ocorreu chuva em apenas em 176 dos 7.304 focos detectados pelo Aqua. O risco de fogo, previsto pelo instituto, era considerado crítico em 4.259 pontos de calor encontrados pelo satélite.
Os pesquisadores apontam que o calor e o tempo seco ajudam a “espalhar” o fogo, mas não a “criar” novos focos.
O G1 mostrou em outra reportagem que a Amazônia apresentou neste ano os mais altos índices de chuva e de queimadas dos últimos quatro anos.
Fogo no Cerrado nos últimos 22 anos
Dados do Programa de Queimadas apontam que o Cerrado brasileiro registra 44% mais focos de incêndios de 1º de janeiro a 10 de setembro do que o observado no mesmo período em 2018.
Foram 35.547 focos no Cerrado em 2019 contra 24.625 em 2018.
No acumulado de 1998 a 2018, as queimadas de 2019 estão dentro da média histórica para este período, que é de 35.627.
Os picos de queimadas ocorreram em 2007, com 76.175; e 2010, com 77.246 – ambos anos com incidência de El Niño, que muda o regime de chuvas. Os anos com menores incidências de queimadas foram 2000, com 15.378; e 2009, com 17.675.
Focos de incêndios de 1º de janeiro a 10 de setembro
Amazônia | Cerrado | BRASIL | |
1998 | 31.631 | 25.601 | 60.807 |
1999 | 36.754 | 24.611 | 73.95 |
2000 | 23.002 | 15.378 | 44.03 |
2001 | 30.995 | 23.099 | 64.031 |
2002 | 75.114 | 39.679 | 136.88 |
2003 | 87.344 | 41.257 | 160.745 |
2004 | 110.773 | 47.685 | 182.388 |
2005 | 111.467 | 36.675 | 175.33 |
2006 | 67.083 | 29.399 | 120.107 |
2007 | 87.298 | 76.175 | 187.311 |
2008 | 38.836 | 25.183 | 79.866 |
2009 | 25.566 | 17.675 | 59.038 |
2010 | 74.125 | 77.246 | 173.982 |
2011 | 18.837 | 32.812 | 66.428 |
2012 | 39.636 | 54.877 | 115.139 |
2013 | 20.154 | 22.007 | 52.82 |
2014 | 35.983 | 33.992 | 82.059 |
2015 | 38.083 | 31.132 | 81.742 |
2016 | 46.815 | 36.109 | 100.995 |
2017 | 48.207 | 32.962 | 96.479 |
2018 | 37.789 | 24.625 | 74.939 |
2019 | 54.282 | 35.547 | 108.931 |
Fonte: Inpe
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