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Usando “berços” criados em impressora 3D, biofábrica recupera corais em PE

Essenciais para o equilíbrio do ecossistema marinho, os recifes de corais estão ameaçados de extinção por causa do aquecimento global. O problema é sério e tem sido alvo de pesquisas ao redor do mundo. No Brasil, pesquisadores do Departamento de Bioquímica da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) criaram uma biofábrica, que usa conceitos de biologia e engenharia, para criar “berços” feitos via impressora 3D e reintroduzir esses animais ao ambiente.

A BioFábrica de Corais desenvolveu e patenteou uma tecnologia inédita que cria um ambiente artificial e controlado para ajudar a salvar as espécies de corais mais afetadas do nosso ecossistema marinho. A técnica usa conceitos da biologia atrelados às engenharias mecânica e de materiais. A iniciativa é do Labenz (Laboratório de Enzimologia Luiz Accioly), que pertence à UFPE.

O projeto funciona em Porto de Galinhas, no município de Ipojuca, litoral Sul de Pernambuco, local escolhido por ter uma cadeia de turismo que gera impacto ambiental. A ideia foi integrar ações científicas, comunitárias e empresariais, visando minimizar os impactos e tornar a atividade turística mais sustentável.

A BioFábrica surgiu em julho de 2015, mas foi no ano seguinte, após um projeto de pós-doutorado no Labenz, que surgiu a tecnologia. O projeto científico conta com apoio de instituições de ensino e pesquisa do país, como a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), e com financiamento da Fundação Grupo Boticário, do Uber e do WWF.

A tecnologia é de baixo custo e funciona com a produção de berços feitos por meio de uma impressora 3D, que faz a estrutura no tamanho exato para o tamanho e adaptação de cada espécie.

Chamadas de camas, elas recebem fragmentos de corais —extraídos de animais condenados à morte— onde eles vão novamente crescer e poder repovoar. Cada uma dessas estruturas tem um custo estimado em R$ 35.

Para atingir o resultado, os pesquisadores constroem um ambiente controlado para que esses pedaços retirados cresçam e sejam readaptados no mar após um período de 90 dias. Lá, eles vão crescer e povoar novamente o ambiente.

O coordenador da biofábrica e doutor em Ciências Biológicas, Ranilson Bezerra, explica que a tecnologia foi desenvolvida a partir de um projeto inicial do laboratório voltado para cultivo de esponjas.

“A gente ia desenvolver um dispositivo, uma ferramenta biotecnológica para fazer o cultivo dela com o objetivo de repovoamento, de recomposição ambiental; mas também para extração de moléculas bioativas. O negócio funcionou tão bem que depois nós adaptamos para os corais”, conta.

A técnica criada não precisa retirar nenhuma parte de coral saudável e pode ajudar na recuperação de recifes em toda a costa nordestina. “Nós pegamos fragmentos de corais que, por algum motivo, estão partidos e depositados nos substratos —e consequentemente, condenados à morte em curto e médio prazo”, diz.

Esses fragmentos são incorporados ás estruturas montadas pela tecnologia, que promoverá a recuperação desses fragmentos. Lá, eles se transformam em uma espécie de muda, que é reintroduzida ao ambiente. “E daí temos diversas possibilidades, dentre elas criar um banco de mudas para recuperação de ambientes degradados”, afirma Bezerra.

Os corais são animais sésseis, ou seja, não possuem capacidade de locomoção. Quando habitam a mesma região, formam os famosos recifes de corais —que servem de refúgio para 25% da vida marinha. No Atlântico Sul, apenas o Brasil tem recifes, com predominância no litoral nordestino (nos estados de Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas).

Eles têm um papel fundamental na natureza marítima, semelhante ao das florestas tropicais por sua grande biodiversidade: eles servem de habitat e alimento para muitas espécies e absorvem o CO2 atmosférico e o transformam em oxigênio.

Por sua fragilidade, a população de corais vem caindo ao longo dos anos, seja pelas mudanças climáticas, seja pelo impacto das atividades humanas. Estima-se que cerca de 30% deles já tenham sido destruídos pela degradação. No ritmo atual, é possível que mais de 90% desses ecossistemas desapareçam até 2050.

Por UOL

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