Projeto na Expoflora ensina sobre convivência com abelhas sem cultura do medo: ‘Principais polinizadores’
Por Mirela Von Zuben, G1 Campinas e Região
A Associação A.B.E.L.H.A. e o Projeto Kombee levam à 38ª edição da Expoflora, em Holambra (SP), uma “tradução” sobre a importância das abelhas para a conservação da biodiversidade do Brasil com o combate sobre a cultura do medo que é colocada sobre estes insetos.
No local, biólogos e outros profissionais ensinam formas de auxiliar na manutenção da natureza através do plantio de flores, ervas e árvores – nativas de cada parte do país –, que se tornam verdadeiros “banquetes” para estes insetos.
A 38ª edição da Expoflora acontece até dia 29 de setembro em Holambra (SP), sempre às sextas, sábados e domingos, e comercializa muitas das plantas indicadas pelos biólogos que conversaram com o G1a respeito das abelhas.
250 espécies de abelhas sem ferrão
Ana Lúcia Assad, diretora executiva da A.B.E.L.H.A., conta que o Brasil tem ao menos 3 mil espécies de abelhas, das quais 1,8 mil estão registradas. Destas, 250 não possuem ferrão e são estes insetos especificamente que o projeto evidencia em seu espaço no evento.
“Elas [abelhas] são os principais polinizadores do mundo todo e as plantas precisam delas. A gente mostra que existem abelhas sem ferrão porque existe um medo das pessoas, elas acham que vai picar, gerar uma alergia”, explica a diretora.
Assad aponta que a abelha mais comumente conhecida pela sociedade, que produz a maior parte do mel comercializado no Brasil, na verdade é uma espécie europeia, trazida ao país para trabalhar na produção de cera no século 19.
“Em 1950 entrou a espécie africana e elas acabaram cruzando. Hoje a gente tem uma abelha robusta que produz a grande parte do mel”.
Entre as espécies de abelhas sem ferrão e que, portanto, não picam caso se sintam ameaçadas, estão:
- Guaxupé (Trigona hyalinata)
- Jataí (Tetragonisca angustula)
- Lambe-olhos (Leurotrigona muelleri)
- Mandaçaia (Melipona quadrifasciata)
- Marmelada (Frieseomelitta varia)
- Mirim (Plebeia droryana)
- Mombuca carniceira (Trigona hypogea)
- Uruçu (Melipona scutellaris)
Plantas que auxiliam as abelhas
Os biólogos do Projeto Kombee apontam algumas espécies de plantas nativas que auxiliam na conservação da vida das abelhas. A bióloga Isabela Cardoso Fontoura cita como exemplo o açaizeiro, natural da região Norte do Brasil, que precisa de uma biodiversidade à sua volta para que a produção do fruto tenha maior qualidade.
“Os nativos começaram a cortar a mata em volta para plantar o açaizeiro e tiraram dali uma fonte de alimento e polinização das abelhas. Em vez de aumentar a produção, tiveram uma diminuição porque tirou algo que é natural, que é a fonte de alimento delas”, diz.
Na região Sul, aponta o biólogo Fernando Quenzer, o cultivo da canola foi influenciado pela presença das abelhas.
“Também precisamos pensar nas áreas florestais, muitos cultivos agrícolas dependem delas. A presença delas ajudou a aumentar a produção da canola”.
Entre outras espécies que atraem abelhas e podem se beneficiar da polinização, estão:
- Aroeira
- Embaúba
- Ervas aromáticas, como manjericão, PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), lavanda, alecrim, coentro, ora-pro-nóbis
- Escova de garrafa
- Guaecá
- Ipê
- Jabuticabeira
- Manacá-da-serra
- Paineira
- Pequizeiro
- Pitangueira
- Quaresmeira
- Sibipiruna
Por que a polinização é importante?
Segundo a bióloga Isabela Fontoura, 70% dos vegetais cultiváveis pelo ser humano são beneficiados pelo processo de polinização e quem mais o faz são as abelhas. Ela conta que, assim como acontece entre os animais, também existem plantas macho e fêmea.
“O pólen é a parte masculina da flor, então você pode ter numa mesma flor as duas partes, ou uma delas. A polinização é o transporte do pólen, da parte masculina para a parte feminina, onde ocorre a fecundação e depois o nascimento do fruto”, explica a bióloga.
Segundo ela, várias plantas precisam dos polinizadores para que o processo de reprodução ocorra. “Algumas não dependem de polinizadores animais, dependem do vento, por exemplo, então com isso você tem a produção de frutos, ou a melhora na produção deles”.
Remanejamento
As abelhas com ferrão, segundo Assad, normalmente não podem frequentar áreas urbanas. Se ela não tem alimento próximo, ela vai buscá-lo.
“No refrigerante você já deve ter visto, fica aquela abelha voando ali em volta, e ela na verdade está atrás de alimento, de açúcar”, explica.
Caso uma pessoa se depare com estas abelhas que picam, a recomendação é que entre em contato com um apicultor ou alguém especializado no manuseio destes insetos. “Ele vai até o local fazer a retirada, para que elas sejam levadas para o campo. Assim, elas voltam para o habitat natural”.
“As abelhas sem ferrão podem ser criadas no ambiente urbano, mas devem ter fontes de alimento próximas. Tem que ter flores, plantar árvores e outras plantas que forneçam alimento para elas”, pontua.
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