Populações de tubarões e raias diminuíram 71% nos últimos 50 anos
A população global de tubarões e raias caiu 71% nos últimos 50 anos, segundo indica uma pesquisa liderada pela Universidade Simon Fraser, no Canadá. O estudo, publicado nesta quarta-feira (27) na revista Nature, é o primeiro a considerar o cenário global para esses animais e revela que atualmente muitas espécies estão em risco de extinção.
A estimativa baseou-se em novos dados sobre as 31 espécies de tubarões e raias oceânicas que figuram na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e sobre as outras 18 que aparecem no Índice Planeta Vivo. Também foram consideradas informações sobre a pesca e o mercado.
A análise revelou que os declínios atingiram primeiro as espécies maiores, atingindo animais menores com o passar do tempo. “Estamos mostrando declínios acentuados e um risco cada vez maior de extinção para grandes espécies nos maiores e mais remotos habitats do planeta, que muitas vezes se acredita estarem protegidos da influência humana”, afirmou Nathan Pacoureau, líder do estudo, segundo o Ouest-France.
Entre os animais criticamente ameaçados de extinção estão três espécies de tubarão cujas populações diminuíram 80% no período analisado. Uma delas é o galha-branca-oceânico (Carcharhinus longimanus), que antes era o tubarão mais comum em águas tropicais. As outras duas são o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini) e o tubarão-martelo-panã (Sphyrna mokarran) — curiosamente, o tubarão-martelo liso (Sphyrna zygaena) é a única espécie cuja população está crescendo.
Já entre as raias ameaçadas, está a manta (Mobula birostris). “Essas quedas acentuadas são chocantes até para especialistas, principalmente quando comparadas às estatísticas de animais terrestres”, afirmou Sonja Fordham, do Shark Trust, uma organização sem fins lucrativos com sede no Reino Unido, à New Scientist.
O papel da pesca
Embora tubarões e raias possam ser afetados por ataques de navios, perfuração de petróleo e gás e, cada vez mais, pela crise climática, a pesca foi a principal causa do declínio — a pressão causada pela atividade nos ecossistemas aumentou 18 vezes. “Esse esgotamento aumentou o risco de extinção global ao ponto em que três quartos das espécies que compõem essa assembleia funcionalmente importante estão ameaçadas de extinção”, escrevem os autores do artigo.
Uma boa parte dos tubarões são mortos sem intenção por pescadores que usam redes para capturar outras criaturas marinhas. Entretanto, as barbatanas desses animais são consideradas iguarias em algumas partes do mundo — e, por isso, alguns pescadores caçam tubarões, cortam suas barbatanas e lançam-os ao mar ainda vivos.
Felizmente, o declínio no número de tubarões e raias nos oceanos Atlântico e Pacífico começou a se estabilizar um pouco depois do ano 2000 por conta das medidas de conservação impostas. No entanto, no Oceano Índico, essa taxa diminui continuamente desde 1970, com uma queda estimada de 84% na população geral.
Os cientistas alertam que essas estimativas, já alarmantes, podem ser ainda mais graves: sem dados suficientes para traçar as tendências populacionais até a década de 1950, quando houve uma explosão da pesca industrializada, não é possível saber como era o cenário antes dessa época.
“Proibições estritas e limites de captura baseados na ciência de precaução são urgentemente necessários para evitar o colapso da população, evitar a interrupção das funções ecológicas e promover a recuperação das espécies”, clamam os estudiosos no relatório.
Prezar por esses animais, inclusive, também é interessante para os próprios pescadores. Isso porque tubarões e raias estão no topo da teia alimentar marinha, o que os torna muito importantes para a manutenção dos ecossistemas dos quais a economia depende.
Para Cassandra Rigby, coautora do estudo, “o declínio contínuo mostra que não estamos protegendo uma parte vital de nossos ecossistemas oceânicos da pesca excessiva, e isso levará ao declínio contínuo da saúde de nossos oceanos até que façamos algo a respeito”, afirmou ao jornal britânico The Guardian.
Por Galileu
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