Pantanal deve levar pelo menos 5 anos sem queimadas para recuperar ecossistema, diz pesquisador
As queimadas no Pantanal mato-grossense já duram mais de 100 dias e as consequências para a fauna devem percorrer pelo menos pelos próximos cinco anos, segundo pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Estudiosos estimam que o Pantanal mato-grossense perdeu 20% da biodiversidade.
O pesquisador Filipe Viegas de Arruda contou ao G1 que realiza um trabalho dos impactos do fogo no Pantanal desde 2015.
Cobra morreu queimada no Pantanal mato-grossense — Foto: Thiago Semedo/Arquivo pessoal
Segundo ele, as consequências do fogo em pequenas áreas para alguns insetos, como as formigas, e pequenos mamíferos levam de quatro a cinco anos para desaparecerem. No entanto, com as queimadas sem controle, esse tempo pode se estender.
“Antes, os animais tinham espaço para se deslocarem para longe do fogo. Mas, desde o ano passado, os incêndios têm devastado grandes áreas e é justamente isso que vem nos preocupando. Muitos não estão conseguindo se deslocar para outro local e acabam morrendo queimados”, explicou.
Veado morreu tentando fugir o fogo no Pantanal — Foto: Thiago Semedo/Arquivo pessoal
Filipe ressaltou que, caso os incêndios permaneçam pelos próximos anos, sem pausa para que os animais possam retomar aos seus habitats, a tendência é que algumas espécies de formiga e roedores desapareçam. Segundo o pesquisado, as chamas impactaram grandes mamíferos e aves ameaçadas de extinção.
“É necessário cerca de 5 anos sem queimadas dessa proporção para conseguirem retornar, mas esse é o grande problema. Está queimando muito, não dá tempo de voltarem. Se continuar assim, a fauna vai mudar. Várias espécies de animais tendem a aparecer. Tendem a ser extintas”, disse.
Onça-pintada que teve as patas queimadas foi resgatada no Pantanal de Mato Grosso no dia 11 de setembro de 2020 — Foto: Ailton Lara
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os incêndios florestais em Mato Grosso, em 2020, são os maiores já registrados desde que o monitoramento começou a ser feito, em 1998.
Neste ano, foram identificados 15.756 focos de calor no Pantanal. Antes disso, o maior número tinha sido registrado em 2005, 12.536 focos.
Incêndio se espalha rapidamente devido aos ventos fortes no Pantanal — Foto: Jeferson Prado
Dados do Prevfogo, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestais do Ibama, mostram que a área queimada no Pantanal, em 2020, já passou de 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão em Mato Grosso e mais de 1 milhão em Mato Grosso do Sul.
Essa área de mais de 2 milhões de hectares representa quase 10 vezes o tamanho das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas.
Cenário devastador no Pantanal impressiona pesquisadores — Foto: Thiago Semedo/Arquivo pessoal
Para o pesquisador do INPP e do Museu Emílio Goeldi, Thiago Semedo, que, junto com uma equipe de estudiosos, já percorreu mais de 60 quilômetros de área devastada no Pantanal para estudo, a sensação é de angústia.
“A sensação é terrível. É muito triste caminhar por quilômetros e ver uma total devastação. Inúmeros animais extremamente importantes para o meio ambiente e interação ecológicas sendo dizimados”, relatou.
Thiago e uma equipe de técnicos e pesquisadores estão fazendo um levantamento da quantidade de animais mortos no Pantanal. Os resultados devem ficar prontos no fim deste ano.
“Com esses números, serão subsidiadas políticas públicas com embasamento científico para a região”, explicou.
Fazem parte da pesquisa as seguintes instituições: Bichos do Pantanal, ONG Panthera, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), Museu Emílio Goeldi (MPEG), Instituto Homem Pantaneiro, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Pantanal.
A previsão de chuva para esta semana é uma esperança de melhora nos focos de incêndio no Pantanal.
“Enquanto a chuva não chegar, é mais um problema que esses animais vão enfrentar, que é a falta de água e comida. As especieis consumaram a conviver com o fogo, mas não esse tipo de queimada, as proporções eram menores. Temos que pensar, além de estudar, como punir quem está fazendo essas queimadas criminosos”, ressaltou Filipe.
Incêndios que destruíram 117 mil hectares do Pantanal começaram em 5 fazendas de MT, diz ICV — Foto: ICV
Ações e responsabilização
Além de antecipar o período proibitivo das queimadas, o governo do estado tem lançado campanhas de combate aos incêndios no Pantanal.
No início de agosto, foi lançada a operação “Pantanal Verde”. Militares de Mato Grosso do Sul desembarcaram em Mato Grosso para ajudar os bombeiros a combater o incêndio de grandes proporções no Pantanal, na região de Poconé.
No entanto, para as instituições ligadas ao meio ambiente, é necessário que o governo responsabilize os infratores que têm causado queimadas.
A coordenadora do Programa de Incentivos Econômicos para Conservação, Paula Bernasconi, explicou, em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, que a maioria dos focos se concentram em área cadastradas no governo, o que facilita o monitoramento e, consequentemente, a responsabilização.
Pesquisadores participam de força-tarefa para contabilizarem animais mortos pelas queimadas no Pantanal — Foto: Semagro/Divulgação
Situação de emergência
O secretário de Segurança Pública do Mato Grosso, Alexandre Bustamante, afirmou, nesta terça, que o reforço das Forças Armadas no combate ao fogo no Pantanal é necessário, pois as equipes de bombeiros que atuam na região até o momento, já “trabalham no limite”.
O governo decretou situação de emergência no estado por causa dos incêndios florestais no dia 14 de setembro. O decreto vale por 90 dias, podendo ser prorrogado.
Com o documento, as autoridades poderão adotar as medidas necessárias à prevenção e combate das queimadas, podendo comprar materiais sem precisar de licitação e suspender os prazos para retorno de gastos com pessoal e dívida.
Por G1
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