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Inúmeras espécies devem ser extintas após incêndios na Austrália

A Austrália hoje arde em chamas em uma temporada de incêndios florestais que, até agora, já consumiu cerca de 5,8 milhões de hectares de flora e fauna. Segundo ecologistas, os meses de incêndios sem precedentes podem levar várias espécies à extinção. 

Cientistas climáticos alertam há muito tempo para a onda de extinções que o aumento dos gases do efeito estufa provocaria. Agora, ecologistas temem que os incêndios florestais representem o começo de um futuro sombrio para a flora e fauna nativas do país. Já se fala em perdas relativas à uma década de conservação e talvez não exista a possibilidade de recuperação para algumas espécies.

Segundo uma reportagem ambiental investigativa do The Guardian (veja aqui), os incêndios florestais não apenas queimam animais até a morte, mas também os matam de fome. Os pássaros perdem suas árvores reprodutoras, frutos e invertebrados dos quais se alimentam. Os mamíferos que sobrevivem ficam em uma paisagem aberta e descampada, sem nenhum lugar para se esconderem, virando presas fáceis para gatos e raposas selvagens.

“Os incêndios são de tal magnitude e extensão que altas proporções de muitas espécies, incluindo espécies ameaçadas, serão eliminadas imediatamente” disse o professor John Woinarski, da Universidade Charles Darwin ao The Guardian.

“Sabemos que as espécies que não conseguem voar – como coalas e greater gliders – desaparecem em áreas queimadas. Os vombats podem sobreviver enquanto estão no subsolo, mas, mesmo que escapem da frente de incêndio imediata, basicamente não há comida para eles em uma paisagem queimada.”

Uma estimativa do número de animais afetados pelos incêndios veio do ecologista da Universidade de Sydney, Prof. Chris Dickman.

Usando pesquisas anteriores compiladas em 2007 sobre o impacto do desmatamento em Nova Gales do Sul, Dickman estimou que cerca de 480 milhões de mamíferos, aves e répteis tenham sido afetados – mas não necessariamente todos foram mortos. Sua estimativa não incluiu morcegos, que são suscetíveis a incêndios e também são críticos para movimentar sementes e polinização.

“Há um conjunto de pequenos animais que vivem no chão da floresta”, disse ele também ao Guardian. “Se a tampa for removida, as raposas e os gatos entram e usam as áreas queimadas como arenas de caça abertas”.

Um fator importante, disse ele, foi o papel ecológico que muitos animais afetados tiveram. Bandicoots e poteroos ajudam a movimentar esporos de fungos após incêndios que promovem a rebrota. Se esses animais morrem, esse “serviço ecológico” também deixa de existir.

O professor Brendan Wintle, ecologista de conservação da Universidade de Melbourne, disse na entrevista que a escala e o momento dos incêndios são “aterrorizantes”.

“Se é isso o que estamos vendo agora, é o início das mudanças devido às mudanças climáticas, então o que vamos olhar com 2ºC ou 4ºC? Acho que não conseguimos entender como isso poderia ser. Este não é o novo normal, mas é uma transição para algo que não experimentamos antes.” 

Três quartos das espécies ameaçadas na Austrália são plantas, muitas das quais existem apenas em pequenos bolsões. Segundo Wintle, se o fogo estiver muito quente é possível que possam perder todas, inclusive o banco de sementes no solo.

Richard Kingsford, diretor do Centro de Ciência de Ecossistemas da Universidade de New South Wales, disse que os incêndios devem tirar a vida de muitas espécies de pássaros que se abrigavam e procriavam em árvores antigas. O fogo exterminou os insetos invertebrados com os quais as aves se alimentam, e essa fonte de alimento não deve retornar até que haja chuva significativa.

“Há muitas coisas que estão ecologicamente fora de escala”, disse ele.

“Não vemos esses animais menores sendo incinerados. Há uma morte silenciosa acontecendo.

O ano de 2019 foi o mais quente já registrado para a Austrália, com a temperatura atingindo 1,52 °C acima da média. O cenário deve se prolongar por pelo menos mais dois meses, quando acaba o verão australiano, tipicamente quente e seco.

Até o momento os incêndios tiraram a vida de 17 pessoas, consumiram pelo menos mil casas e forçaram mais de dez mil pessoas a abandonarem suas cidades para buscar segurança.

Confira a reportagem completa no The Guardian.

Por Ciclovivo

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