Conceito de agricultura sustentável permite produção de hortaliças em centros urbanos
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Desde abril deste ano, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Hortaliças em parceria com a empresa 100% Livre, do ramo de comércio varejista de hortifrútis, se dedicam para a criação de sistemas que permitem a reprodução das condições climáticas ideais para o cultivo de cada uma das espécies plantadas. A previsão é que a primeira unidade produtiva esteja funcionando em novembro deste ano no centro da capital paulista.
![produção de hortaliças em fazenda vertical](https://img.estadao.com.br/resources/jpg/6/7/1601342770876.jpg)
Por enquanto, os experimentos estão sendo realizados em uma estrutura de 90 metros quadrados do Laboratório de Agricultura em Ambiente Controlado da Embrapa Hortaliças, com uso de dois containers acoplados e modificados, com paredes feitas com placas que mantêm o isolamento térmico e totalmente equipada com sensores para monitoramento das condições ambientais, com financiamento da empresa parceira.
Além da produtividade do cultivo em andares, conhecido como fazenda vertical urbana, formato indicado para folhosas e condimentares, a pesquisa também vai considerar a produtividade em um único nível ou camada, no que se entende como plant factory (fábrica de plantas), modelo mais adequado para cultivo de hortaliças de fruto.
Conhecido mundialmente, o modelo de agricultura indoor envolve o plantio de espécies vegetais em um local fechado com cultivos sem solo ou substratos, iluminação artificial com painéis de LED e controle de diversas variáveis. “Estamos avaliando os aspectos no interior da estrutura que podem influenciar no crescimento e na produção dos vegetais. Avaliando a parte de iluminação, tanto tipos de lâmpadas, quanto diferentes cores, se azul ou vermelho, temperatura do ambiente mais adequada e composição de soluções nutritivas”, disse o coordenador do projeto Ítalo Guedes, pesquisador da área de nutrição de plantas e cultivo protegido e sem solo da Embrapa.
Segundo ele, os estudos são necessários para analisar as diferentes espécies de hortaliças e verificar quais respondem melhor ao tipo de ambiente. “Todo o cultivo é feito com solução nutritiva completa. Está em teste um grande número de hortaliças folhosas como alface, agrião e rúcula; de hortaliças condimentares como manjericão e coentro; e de hortaliças de frutos como tomates e morangos”, exemplificou Guedes, ao dizer que, em países desenvolvidos, a agricultura urbana responde por quase um quarto da produção de hortaliças e frutas.
Técnicas de cultivar plantas sem solo
Prática já conhecida pela economia de água e nutrientes em relação ao cultivo em campo aberto, a hidroponia pode reduzir em até 90% o uso de água e até 70% o de adubos. A planta recebe água pura, onde são dissolvidos nutrientes necessários para o crescimento adequado. Já na aeroponia, outro manejo da nutrição e da irrigação das hortaliças, a solução nutritiva é injetada sob pressão com equipamentos tipo nebulizador que jogam a névoa da solução diretamente nas raízes das plantas. Neste caso, a economia de água e nutrientes pode alcançar até 30%, dependendo do cultivo. “Além disso, nós estamos fazendo a coleta da evapotranspiração dentro do ambiente, utilizando desumidificadores e, assim, conseguimos um reúso de quase 100% da água aplicada no sistema de produção”, esclareceu.
Além da economia de água e nutrientes, os experimentos mostram que é possível tornar a produção mais precoce. “Colher com antecedência, dependendo da variedade, de 5 a 10 dias do que colheria em campo aberto. O ambiente de alta eficiência também consegue manter a qualidade nutricional, de sabor, firmeza e textura das hortaliças. A única desvantagem ainda é a energia elétrica, principalmente por causa da luz, no entanto, tentamos compensá-la com o aumento de produtividade”, explicou o pesquisador.
![Morango colhidos após produção em fazenda vertical](https://img.estadao.com.br/resources/jpg/5/7/1601342770875.jpg)
Desta forma, o monitoramento constante também é feito periodicamente para acompanhar o desenvolvimento das espécies cultivadas, podendo assim ajustar a oferta de nutrientes necessários para as plantas, podendo expandir com segurança o cultivo. A produção obedece ainda aspectos de higiene e de manipulação para garantir a oferta de hortaliças limpas, livres de agrotóxicos e sem contaminação biológica. Na estrutura, uma antecâmara é usada para a descontaminação de funcionários e evitar o ingresso de insetos ao contêiner.
Parceria
A parceria público-privada (PPP) entre a Embrapa Hortaliças e empresa 100% Livre viabilizou a pesquisa com a produção de hortaliças em ambiente controlado.
“Além de ser 100% livre de agrotóxico, a hortaliça estará pronta para consumo do cliente final, sem a necessidade de lavagem. Além disso, por ter cultivo sem uso de solo, a vida útil da vegetação também é maior”, disse Diego Gomes, sócio-fundador da 100% Livre.
A fazenda vertical não se limita por clima, temperatura ou sazonalidade. “Com isso, acabará a época de determinadas frutas e folhas, sempre conseguiremos entregar semanalmente, o mesmo alimento, sem a variação de preços provocada pela sazonalidade”, disse Gomes.
Além de São Paulo, onde irá funcionar a primeira unidade, o empresário espera expandir o conceito de agricultura sustentável para outras cidades das regiões Sudeste, Sul e Nordeste. “O objetivo a longo prazo é ter um volume de produção maior. Ampliar iniciativa para outras capitais e também outros países. Com resultados positivos do cultivo de hortaliças, esperamos ainda ampliar a iniciativa para outras frentes como cultivo de espécies medicinais”, ressaltou ele.
Por Estadao
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