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Antártida Ocidental Está a Derreter – E a Culpa é Nossa

Os imponentes glaciares da Antártida Ocidental detêm nos seus flancos o destino das regiões costeiras de todo o mundo. Durante os próximos 80 anos, o colapso destes glaciares pode elevar o nível do mar em pelo menos 30 centímetros – e potencialmente muito mais.

Durante vários anos, os cientistas observaram e estudaram o desmoronamento e o degelo destes glaciares, e estes eventos têm aumentado ao longo das décadas, colocando em perigo a estabilidade de toda a camada de gelo da região. Suspeitava-se que a influência humana no clima podia afetar o degelo, mas era difícil provar que o aquecimento global, provocado pelo homem, podia ter consequências no degelo que já estava a acontecer.

Agora, uma equipa descobriu as evidências da influência humana. Num estudo publicado na Nature Geoscience, uma equipa de cientistas mostrou que, no século passado, o aquecimento global provocado pelo homem mudou o caráter dos ventos que sopram no oceano – perto de alguns dos glaciares mais frágeis da Antártida Ocidental. Por vezes, estes ventos enfraquecem ou invertem a sua direção, provocando alterações na temperatura da água do oceano que envolve os glaciares.

“Agora temos provas de que as atividades humanas influenciaram a subida do nível do mar na Antártida Ocidental”, diz o principal autor do estudo, Paul Holland, cientista polar na British Antarctic Survey.

O oceano absorve o gelo
Cerca de 6% da água doce do planeta está congelada nas entranhas da gigantesca camada de gelo da Antártida Ocidental. Se esta camada derretesse por completo, o nível do mar subiria globalmente 3 metros ou mais. Não é provável que isto aconteça para já, acreditam os cientistas, mas algumas partes do manto de gelo são particularmente vulneráveis e, caso recuem demasiado, correm o risco de passar o “ponto de inflexão” crucial.

Nas últimas décadas, alguns glaciares da região recuaram com uma velocidade alarmante. Os glaciares Pine Island e Thwaites, por exemplo, estão a perder cerca de 100 mil milhões de toneladas de gelo todos os anos, e em anos maus perdem mais.

Os glaciares estão a recuar porque se estendem pelas extremidades do continente, até ao oceano circundante, que é mais quente que o gelo. E a água mais quente derrete o gelo.

O aquecimento do oceano é extremamente importante. Durante décadas, a temperatura da água subiu e desceu. Estas alterações, impulsionadas em parte pelos ciclos climáticos naturais que, em ocasiões diferentes, enviam diferentes massas de água para as extremidades da camada de gelo, fazem com que a água alterne entre temperaturas frias e um pouco menos frias, a cada 5 anos ou mais.

A força dos ventos, mais longe da costa, no coração do gélido Mar de Amundsen, é o fator que permite, ou não, que esta água mais quente chegue às extremidades da camada de gelo. Por vezes, estes ventos – da família do famoso bando de ventos do Oceano Antártico, conhecidos por Roaring Forties – enfraquecem ou invertem a sua direção. Quando isso acontece, a camada de gelo fica exposta às águas com temperaturas mais elevadas, resultando em níveis de degelo mais acentuados.

“Na década de 1920, os ventos sopravam de forma consistente para oeste”, diz Holland. “Por isso, antigamente, a água estava sempre fria – alternando entre o fria e o muito fria.”

Mas agora, devido ao aquecimento do planeta, toda a linha de base se alterou. Em vez de um ciclo que alterna entre água fria e muito fria, temos variações entre morna e fria.

Os cientistas sabiam que a força dos ventos no Mar de Amundsen afetava a temperatura da água. Mas só existem dados sobre a força e direção dos ventos nessa região desde 1979. Contudo, os padrões encontrados nesse lugar encaixam quase na perfeição com as condições existentes em lugares distantes, como acontece no Oceano Pacífico tropical, onde existem registos mais antigos – assim, a equipa conseguiu extrapolar as alterações que aconteceram nos ventos desta região polar durante o último século.

Os cientistas usaram um conjunto de modelos climáticos para perceber como é que os padrões do vento poderiam ter evoluído nos últimos 100 anos, sem as interferências do aquecimento global provocado pelo homem, e compararam os resultados com o que acontece atualmente. Os padrões atuais – com fluxos semelhantes de vento de este e oeste – fazem com que toda a região aqueça um pouco mais do que acontecia há 100 anos, quando o vento soprava geralmente para oeste.

Gelo em desequilíbrio
Até à década de 1920, o gelo derretia durante as fases quentes e aumentava durante as fases frias. Mas no último século, esse equilíbrio começou a desaparecer. Os ventos irregulares e as fases quentes do oceano consumem o gelo muito mais depressa do que este é reposto.

Algumas das alterações mais notáveis nos padrões do vento, que aconteceram em meados da década de 1970, coincidem com os enormes recuos verificados nos glaciares Pine Island e Thwaites.

Estes glaciares são particularmente sensíveis ao degelo nas suas extremidades. E aparentemente, o solo por baixo dos glaciares é côncavo, como uma tigela. O gelo glaciar está ligado ao “aro” da tigela e, quando derrete para além dessa zona, a água morna do oceano consegue entranhar-se na sua base e acentuar ainda mais o degelo a partir do fundo.

Em 1974, um dos momentos de maior degelo fez com que os glaciares derretessem para além dessa zona e, desde então, começaram a derreter muito mais depressa do que acontecia antigamente – com uma velocidade 50% superior, disse Eric Steig, um dos autores do artigo e especialista em núcleos de gelo na Universidade de Washington.

Suspeito identificado – somos nós
De acordo com o estudo, esta perturbação nos padrões do vento deve-se às alterações climáticas provocadas pelo homem. Os gases de efeito estufa adicionais, libertados na atmosfera pelos humanos nos últimos 100 anos, mudaram radicalmente a forma como o calor se move em torno do planeta, alterando também a base dos padrões do vento nos polos.

Durante muitos milhares de anos, a camada de gelo da Antártida permaneceu mais ou menos estável, em forma e tamanho. Mas há cerca de um século, partes da camada começaram a recuar de formas mensuráveis. E este degelo encaixa no período onde o dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa se começaram a acumular na atmosfera. Assim, parece lógico assumir que a influência humana afeta o gelo. Mas a Antártida é um lugar complexo, sofre muitas alterações devido a variantes naturais, por isso, tem sido difícil identificar a extensão da influência humana sobre estas alterações.

“É difícil conceber que o gelo tenha ficado mais ou menos igual durante milénios e depois tenha decidido recuar naturalmente, exatamente quando os humanos começaram a perturbar os sistemas naturais. As evidências da influência humana sobre as variantes naturais são muito fortes”, escreve por email Richard Alley, cientista do clima na Universidade Estadual da Pensilvânia.

Resumindo, o aquecimento do planeta mudou claramente a forma como os ventos se movem pela Antártida – e a não ser que aconteça algo de muito drástico, que retarde ou reverta este processo de aquecimento, estas mudanças vão provavelmente continuar.

“Se estes padrões continuarem, podemos acabar numa situação onde os ciclos alternam entre o quente e o muito quente”, diz Holland. E isso pode ter consequências devastadoras.

Mas o futuro ainda não está escrito, enfatizou Steig. Manter as futuras emissões de gases de efeito estufa em “níveis de segurança” pode ser um fator decisivo para evitar que estes ventos cruciais aqueçam ainda mais a água junto às extremidades do gelo.

“O degelo da camada da Antártida Ocidental vai afetar todas as pessoas”, diz Steig. “Os efeitos serão globais, porque o nível do mar vai subir no mundo inteiro.”

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com

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