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A história por trás do resgate do filhote de sagui que viralizou nas redes sociais

Um filhote de sagui-de-tufos-brancos caído no chão do condomínio, um dos pais no tronco da árvore hesitando em resgatá-lo e um grupo de crianças cercando o animal acreditando que poderia ajudá-lo assim. Foi uma cena com esse conjunto que elementos que possibilitou ao ator mineiro que vive no Rio de Janeiro, Igor Venâncio, um vídeo viral e, muito mais que isso, uma sensação recompensadora de auxiliar a natureza.

A situação se deu na semana passada, mas foi resultado uma experiência ainda anterior. “Dias atrás eu tinha ajudado um passarinho que foi atacado por um gato. Cuidei dele durante a noite e, no dia seguinte, ia levar ao veterinário. Mas, quando amanheceu, ele estava muito bem, senti que só queria voar. Quando o soltei, ele voou para longe e eu me arrependi de não ter filmado, porque o processo da recuperação dele foi incrível”, conta o ator.

Reação do adulto de sagui-de-tufos-brancos ao receber o filhote devolvido surpreendeu internautas — Foto: Igor Venâncio/Acervo Pessoal

Reação do adulto de sagui-de-tufos-brancos ao receber o filhote devolvido surpreendeu internautas — Foto: Igor Venâncio/Acervo Pessoal

Marcado por essa história, alguns dias se passaram, e enquanto auxiliava um amigo de profissão a fazer um vídeo para um teste viu um conjunto de crianças se aglomerando ao redor de um pequeno sagui. “Percebi que o pai ou a mãe do filhote queria pegá-lo, mas as crianças estavam o assustando. Pedi para que elas se afastassem, mas não foi suficiente. Como havia a possibilidade de passar um carro por cima dele ou um gato ou outro predador pegar, eu não pensei muito para agir e tomei a atitude de levá-lo até um de seus pais”, relembra.

Saguis-de-tufos-brancos e de tufos-pretos são muito comuns mesmo em áreas urbanas, embora sejam animais que foram introduzidos no Sudeste pelo tráfico, se espalharam no território de forma abrangente e cativaram a simpatia de muitos humanos. A professora do Laboratório de Ecofisiologia e Comportamento Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Maria Adelia Borstelmann de Oliveira, porém faz alertas diante desse vínculo.

Sagui-de-tufo-branco tem origem da Caatinga e distribui-se em todo o país, ameaçando espécies nativas de outras regiões — Foto: Ananda Porto / TG

Sagui-de-tufo-branco tem origem da Caatinga e distribui-se em todo o país, ameaçando espécies nativas de outras regiões — Foto: Ananda Porto / TG

Segundo a especialista nesses animais, a melhor forma de agir é observá-los de longe, deixar que os pais atuem com os filhotes e convocar órgãos ambientais em situações de risco. A transmissão de doenças é uma das consequências do contato próximo. “O herpes vírus simples causa incômodo ao ser humano, mas, em geral, é fatal para os saguis. É uma morte horrível. Por outro lado, o vírus da raiva pode ser transmitido do sagui para o ser humano”, reforça ela.

Se na situação do vídeo a atitude foi fruto do impulso, admirar animais como esses à distância é também uma oportunidade de conhecer comportamentos muito curiosos das espécies. A especialista destaca que a família de saguis e micos possui uma alta fertilidade e pode gerar até dez filhotes em apenas dois anos, algo muito numeroso se comparado aos demais primatas que têm apenas um filho a cada ano.

Os machos do sagui ensinam os filhotes a comer e caçar enquanto as fêmeas grávidas e amamentando têm as necessidades nutricionais aumentadas em 75% — Foto: Ananda Porto/Terra da Gente

Os machos do sagui ensinam os filhotes a comer e caçar enquanto as fêmeas grávidas e amamentando têm as necessidades nutricionais aumentadas em 75% — Foto: Ananda Porto/Terra da Gente

Em espécies como o sagui-de-tufos-brancos, é comum que a cada gestação nasçam filhotes gêmeos. Além disso, passados de sete a dez dias do parto, as mamães já são capazes de engravidar novamente. “A hipótese é que a gravidez garanta a dominância do grupo e, para dar conta desse esforço de produzir dois filhotes e dar de mamar para mais dois durante toda a vida adulta, a fêmea tem que comer o tempo todo. Ela pode até ‘roubar’ comida de todo mundo de seu grupo e ninguém reclama, porque geralmente é muito brava!”, define Maria Adelia.

Exatamente para que essa mãe “multitarefas” ainda consiga capturar gafanhotos, borboletas e baratas para sua alimentação, cabe aos machos e a outros componentes do grupo carregar os pequenos nas costas, proteger contra predadores, dar lições quanto à vida livre e até brincar. “Quando uma fêmea ingênua engravida, ela pode deixar que saguis jovens e inexperientes cuidem de seus filhotes e isso pode ser bem ruim para o aprendizado deles e, principalmente, para a sobrevivência”, explica a especialista.

Unhas em forma de garra, almofadas nas palmas das mãos e pés e até rotação dos membros e da cauda são elementos que auxiliam o equilíbrio dos filhotes das costas às árvores — Foto: Fabrício Corsi Arias/Acervo Pessoal

Unhas em forma de garra, almofadas nas palmas das mãos e pés e até rotação dos membros e da cauda são elementos que auxiliam o equilíbrio dos filhotes das costas às árvores — Foto: Fabrício Corsi Arias/Acervo Pessoal

É por volta dos três meses de idade dos saguis que os adultos já começam a retirá-los das costas para que se desenvolvam de forma independente. Muitas vezes, são deixados em moitas ou cipós para que treinem as habilidades motoras. Na natureza, caso caiam das árvores, o tombo é atenuado pelo solo macio da floresta, coberto por camadas de folhas. A vida nas cidades, dessa forma, impõe o desafio de lidar com o impacto do asfalto que pode levar a problemas oculares, quebra de ossos e até a morte dos pequenos. Recebi uma série de mensagens de carinho de pessoas sensibilizadas. Eu me senti salvo pelo mico e não que eu o salvei. Chegou o momento de buscarmos esse senso crítico e ajudarmos a natureza. Nós somos os culpados pela destruição e, portanto, cabe a nós reverter isso — Igor Venâncio (ator)

Por G1

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